sábado, 25 de setembro de 2010

Patrícia Field, de Sex And The City


Meus leitores já sabem que eu estive (loucura pura) na última segunda-feira a noite no Terraço Daslu, em Sampa, onde aconteceu o Marie Claire Inspiração. A stylist de Sex And The City e do filme Diabo Veste Prada deu uma palestra leve e bem divertida... Exatamente como ela é...
E eu amei! Primeiro porque ela ficou, conviveu, viveu e respirou Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda por boa parte da sua vida; segundo, porque ela enxerga a moda da mesma maneira que eu: fácil, gostosa e livre...
A estilista e figurinista falou do estilo hi-low, que consiste em misturar roupas de grifes a peças garimpadas em lojas de fast-fashion e do desafio de construir um estilo individual. Ela dise: “O estilo, no fim das contas, vem de saber quem você é”.

Toques do bate-papo que começou assim:“Uma garota de cabelos vermelhos pode fazer qualquer coisa!” A frase é de Patricia Field, a dona das mechas cor de fogo e responsável pela febre fashionista que tomou conta da televisão com “Sex and the City” e que depois chegou às telonas com “O Diabo Veste Prada” e os 2 filmes da seqüência do seriado que conta a história das 4 amigas mais famosas de NY.

Jackie - Ser magra é absolutamente necessário para ser elegante?
Patricia - Hoje em dia é muito importante ser magra, mas é uma moda que pode chegar até um certo limite. Depois fica feio e acaba passando. Ser gorda nunca vai voltar à moda, mas acho que a idéia é que as pessoas pareçam saudáveis, essa vai ser a nova onda.
Jackie - Quantas vezes você já veio ao Brasil?
Patricia – Mais que dez, eu gosto muito de São Paulo. A primeira vez que eu vim ao Brasil foi a convite de Alexandre Herchcovitch, nos anos 90. Gostei, voltei e comecei a comprar roupas aqui para a minha loja em Nova York.
Jackie - Que tipo de roupas?
Patricia - Quase nada dos designers, porque a minha loja é mais popular e mais voltada ao público jovem, mas gosto muito do que vejo nas ruas 25 de Março e José Paulino, mas agora me disseram que não é mais a mesma coisa, que as lojas de lá estão na Oscar Freire, é isso?
Jackie - Você viu os desfiles de outros estilistas brasileiros. O que achou?
Patricia - A moda brasileira perde quando tenta repetir o que acontece em Paris ou Nova York, e vejo que muitos dos estilistas fazem isso. A maioria dos designers brasileiros pensa mais no estilo francês de vestir do que no gosto local. As roupas que eu vejo nas ruas do Brasil são muito mais divertidas e sexies. As pessoas têm menos medo de mostrar o corpo.
Jackie - Herchcovitch é um estilista brasileiro nesse sentido?
Patricia - Não, ele não reflete exatamente o Brasil, mas é um artista verdadeiro, é um estilista completamente original. Vive dentro de uma bolha de fantasias e vê o mundo de uma forma completamente diferente.
Jackie – Fale do efeito Sex And The City.
Patrícia – O efeito Sex and the City foi maravilhoso. Ver algo começando e, de repente, tomando o mundo. Todas as mulheres unidas, falando a mesma língua.
Nos anos 90, as mulheres seguiam mais regras ditadas, seja por um designer ou pela ideia de como deveriam se vestir. Uma executiva deveria usar um terno, por exemplo, ou roupas de grife da cabeça aos pés. E uma virada interessante que veio com o seriado foi o nascimento de uma ideia de estilo pessoal. Eu acho que todos estão mais felizes agora.
Jackie – Houve então uma democratização da moda?
Patrícia – Veja bem, antes de 'Sex and the City', os acessórios não tinham essa importância que têm hoje. O seriado mudou a indústria num ponto que criou, por exemplo, a loucura por bolsas. A série virou as lojas de departamento de cabeça para baixo, no bom sentido. De uma hora para outra, grandes estilistas fecharam parcerias com essas lojas, o que eu achei ótimo. Por que razão você tem de fazer um empréstimo para comprar um sapato? Você quer curti-lo, quer ter acesso às peças que vão montar o 'seu quadro'. As coleções de (Karl) Lagerfeld e Jimmy Choo para H&M são maravilhosas. Hi-low, é a mistura que importa.
Jackie – Fale de Sarah Jessica Parker e a moda.
Patrícia - Ela é muito profissional. Quanto à sua apresentação, caminha como se estivesse flutuando e cuida do corpo. Qualquer coisa fica bem nela e Sarah sabe disso. Eu a conhecia antes de 'Sex and The City" e ela sempre teve interesse por moda. Fizemos 'Casos e casamentos' (1995) e propus que usasse camisetas estilo baby look quando a moda, na época, era usar camisetões. Ela comprou a ideia e juntas brigamos com o diretor, e vencemos! Depois, quando veio Carrie, acho que ela se liberou para ousar mais no seu próprio estilo, que é bem diferente do da personagem. A Carrie foi como um ingresso à Disneylândia para Sarah.
Jackie - E qual seria o sapato da Carrie agora?
Patrícia - Hum, eu não sei… No primeiro filme veio a sandália gladiadora e foi um sucesso, todo mundo usou, foi o filme da gladiadora. E ela está aí até agora. Fez tanto sucesso que até me cansei dela. Também gostaria de saber… Queria que Manolo (Blahnik) fizesse um novo sapato pra virar febre. Teria que ser isso.
Jackie – E a Miranda, Cynthia Nixon?
Patrícia - Quando eu soube que Cynthia Nixon (que interpreta a personagem) assumiu que era lésbica, eu pensei ‘por que ela não me disse antes?’ – foi um choque. Ela é a melhor atriz de todas, mas era muito fechada. Ela dizia que eu era profissional e que confiava em mim, mas eu precisava ouvir mais dela. Começamos com um terno sério, horrível – e eu não podia colocar, do nada, um vestido lindo nela. Depois que ela se assumiu mudou, ficou mais feliz, emagreceu. Ai vi uma foto dela e pensei em como estava bonita. Isso me inspirou muito pros figurinos dela nos 2 filmes. Porque ali eu a entendi mais.
Jackie – E ganhar o Oscar?
Patrícia - Nunca sonhei em concorrer ao Oscar. Dizem que os vencedores são aqueles que fazem figurinos de fantasias, de época, e não os contemporâneos. Não concordo com isso, não dá pra ficar pensando assim na hora de criar. Você precisa ver um filme e se lembrar dele pelas roupas lindas que viu, é isso.
Jackie – Para encerrar (óóóóh, ficaria muitas horas ainda escutando ela falar) me fale algo sobre como as pessoas podem, e se podem, construir um estilo.
Patrícia - É possível ter estilo desde que você se proponha a fazê-lo. Pense no seu dia e, se vai trabalhar, imagine o escritório como um palco. Veja você entre as pessoas à sua volta. Se veja como se estivesse olhando uma tela de televisão. Se conseguir fazê-lo, já terá um ótimo começo. Além disso, você tem de estar interessada em fazer o exercício. Você precisa se apresentar, expressar o que você é.

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